Força da Justiça

Força da Justiça

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

À sombra de uma mangueira *orgânica*

Minha filha estuda em uma escola de educação *alternativa*. Mundo louco este porque quando digo *alternativa* nada mais é do que garantir à criança se apropriar do seu corpo, emergir sua criatividade, apostar na saúde com uma alimentação saudável, cantar, contar e se encantar com *estórias*, músicas. Pois é. Alternativa contra um mundo, e aí a maioria das escolas, em que a criança, desde cedinho, é obrigada a cumprimentar os outros, a ir para o colo de quem a quer, de pintar desenhos já traçados por outros, de engolir as deliciosas envenenadas recheadas e o choro também.

Só que já sabia que a alternativa a este mundo ainda é possível a poucos ou por desconhecimento ou por descrença ou por condições sócioeconômicas, raciais ou falta de atrevimento ou ou ou. O fato é que o mamão antes plantado na casa de minha avó *também lembro dos caquis... jacas...* hoje não é apenas um mamão, é mamão orgânico e não é pra qualquer um. O sonho de se aprender e ensinar na sombra de uma mangueira - salve amado Paulo Freire -  segue, embora tenha se tornado um sonho orgànico, mas tem que pagar e pagar mais, tem que procurar para quem sabe achar, tem que se atrever a negociar quando não se pode custer, entrar e ousar permancer.

Mas, como toda mãe que ama, meu desafio é pagar os preços da vida na aposta de que minha filha possa ser feliz.

Por vezes fico ranzinza, mas depois volto a acreditar que há chance para esse mundo até porque recebo olhares lindos, significativos, significantes de um par de jabuticabas orgânicas lindas demais.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Mulheres e a luta por Justiça: Violência obstétrica

Mulheres e a luta por Justiça: Violência obstétrica

Violência obstétrica


Eu vi uma mulher preparando outra pessoa... o tempo parou pra eu olhar para aquela barriga... a vida é amiga da arte... É a arte que o Sol me ensinou...
...
E a coisa mais certas de todas as coisas não vale um caminho sob o Sol...


Na rotina das quintas-feiras e sextas dos últimos dois meses atravesso a cidade para chegar ao extremo leste, divisa com Guarulhos, para fazer formação com dois grupos de mulheres, de idades variadas, experiências que ora se aproximam ora mostram a riqueza da diversidade.
 
Um trabalho como este não tem como ser apresentado a não ser com o encontro de duas palavras> força e beleza, encanto-me ao ver nelas nossa face de mulher.
 
O último encontro me tocou profundamente e particularmente, a tal ponto que hoje estou aqui a escrever, depois de um longo tempo. Perdoem-me, mas a vida me chamou por outros caminhos e ficou difícil manter essa prosa com a frequência que gostaria... e essa mesma dona vida me deu mais experiências para compartilhar em textos por aqui.
 
Entro em sala com a parceira de trabalho e olho para aquelas mulheres. Respiro fundo e lá vamos nós falar sobre gestaçao, puerpério, aproveitando o gancho do ECA *Estatuto da Criança e do Adolescente* que reconheceu o período pós-parto como fase de especial importância para a mulher e para a criança, embora tenha por objetivo minorar ou evitar as consequências do puerpério. Cá entre nós, importantíssimo esse reconhecimento do ECA, mas puerpério tem que ser vivido com apoio verdadeiro e ciente do que está sendo construído nessa fase que é ao mesmo tempo de renascimento da mulher que cuida do recém-nascido, relação de profunda mudança para ela e para a criança que, por sua vez, deixa um corpo que não é seu, mas que precisa de um tempo para entender o que aconteceu e, mesmo ao perceber gradativamente, dá sinais sobre a vida da mãe, sinais do que está bem, do que não está, formando por vezes uma relação de espelho. Então fica quase que desnecessário dizer que esta mulher precisa estar amparada, acarinhada, segura para cuidar da criança e captar estes sinais, mas não é o que ocorre.
 
Joana, durante nosso encontro, afirmou que a sensação que teve após a filha nascer foi a de  não querer vê-la, pois ficou durante horas imobilizada, seu parto foi um pesadelo e ela se sentiu torturada.
 
Caielli recebeu ocitocina sintética para acelerar o parto, sentia dores horrendas, sozinha, não permitiram que outra pessoa a acompanhasse, a não ser o pai da criança, mas ele estava em outro Estado. A equipe médica conclui que ela deve ser submetida à cesárea porque o trabalho de parto estava lento, aplicaram-lhe anestesia que não surte efeito, dizem que não podem aplicar outra, pois o bebê entraria em risco de morte. Dizem que os dois podem morrer se o parto não fosse feito naquele momento. Ela pede que façam a cirurgia e que salvem sua filha, sente cada corte e costura e a avisam que deve orar, pois não dariam 24 horas de vida para a recém-nascida que hoje tem quase dois anos. O sentimento de desespero, solidão e angústia a acompanham até hoje.
 
Flor não conseguia falar, chorava de soluçar.
 
E os relatos de trauma, dor se seguiram. O que deveria ser um momento de celebrar a vida, tornou-se para essas mulheres tortura e elas são as únicas.  Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, 1 em cada 4 mulheres foi violentada durante o trabalho de parto, o que se chama de violência obstétrica. Número que pode ser bem mais elevado, uma vez que a informação sobre o que é violência obstétrica não é ainda divulgada o suficiente para que as mulheres percebam se foram vítimas ou não, acreditando muitas vezes que foram submetidas a tratamentos necessários. São vários os exemplos do que configura o tratamento desumano à gestante como o  excessivo número de exame de toques, sem a apresentação dos profissionais e explicação sobre o procedimento e o objetivo, frases depreciativas como *na hora de fazer não gritou*, *tá gritando, mas aposto que no ano que vem estará aqui de novo*, impedimento de acompanhante por escolha da parturiente, impedimento da mãe ficar com a criança logo após o nascimento e dar de mamar, aplicação de ocitocina sintética para acelerar o parto, obrigar a parturiente a ficar em determinada posição, realizar episiotomia *corte entre o ânus e a vagina* sem consentimento e sem necessidade, empurrar a barriga da gestante para que o bebê nasça e assim vai.
 
É importante denunciar para evitar a continuidade dessa tragédia que afeta mulheres, ou seja, é violência de gênero, afeta crianças, afeta a vida. Denunciar à Secretaria de Mulheres através do disque 180, ao Ministério Público Federal, ao Judiciário como tentativa de obrigar que os agressores *equipe médica e hospital* indenizem as vítimas. Tanto as Defensorias Públicas como advogados podem ingressar com a ação de danos morais.
 
É importante desabafar, tirar de si a culpa do que ocorreu porque a pergunta e *se eu tivesse feito isso ou aquilo* fica martelando na cabeça de quem sofreu a violência, é importante procurar apoio. Cresce o número de estratégias para identificar, denunciar e impedir a violência obstétrica e mais... cresce o número de centros humanizados de parto e atendimento à gestante como a CASA DE PARTO ANGELA, na zona sul de São Paulo.
 
Apoie o parto humanizado. Parir com amor. Nascer com amor. Ampare uma gestação, uma gestante. Acredite no potencial da mulher em parir e conduzir a relação com a criança. Ajude para que ela tenha, sobretudo, amparo, amor e segurança. É possível.






 
 
Saiba mais sobre violência doméstica<


http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2014/03/12/mulheres-denunciam-violencia-obstetrica-saiba-se-voce-foi-vitima/

http://www.partodoprincipio.com.br/#!faq-violncia-obsttrica/c22qe

Sobre a CASA DE PARTO ANGELA<

http://www.casaangela.org.br/

RECOMENDADO

FILME O RENASCIMENTO DO PARTO

sexta-feira, 20 de março de 2015

O que você vê e sente?


Tenho percebido o quanto a invisibilidade, ou de forma mais direta: a ignorância, em relação aos tipos de violência persiste. 
Então proponho o exercício de pensarmos em exemplos de violência desde as simbólicas (aquelas que quase ninguém pode testemunhar porque não a percebe, mas que ferem imensamente e, em alguns casos, matam) às reais (escancaradamente vistas, mas que podem ser banalizadas). Comecemos pela violência psicológica, poderemos tratar da violência fìsica e sexual nos próximos textos. Depois (ou agora mesmo) também podemos trocar figurinha sobre exemplos de tratamentos respeitosos às pessoas para os tornar visíveis igualmente, o que acham?

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

(Lei Maria da Penha: a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.) Aqui coloco outro parênteses, entendo a violência contra a mulher como gênero, da qual decorrem a violência contra a criança menina, contra a adulta e a idosa.

Exemplos:

Negar-se a explicar os motivos de um "não" para uma criança e no lugar disso mandá-la calar a boca, ameaçá-la e dizer "criança não tem querer",

Usar palavrões para fazer calar alguém, ainda mais quando este alguém é uma criança,

Não permitir que alguém dance, alegando que é coisa demoníaca. 

Criar, chamar, enfim, ridicularizar as pessoas com adjetivos pejorativos, como macaco, em função de raça,idade, orientação sexual, religião, deficiência física, gênero.... Exemplos mais práticos: macaco, referir-se a alguém como aquela neguinha ou aquele neguinho, chamar alguém de velho, imprestável, viadinho, , macumbeira, aleijado, defender o estupro "curativo" contra lésbicas. Falar de assuntos inapropriados diante de uma criança, considerando-a burra (ah, ela não entende mesmo!) ou surda (ah, ela não está nem ouvindo!), usar o termo "isso é coisa de mulherzinha".

Ameaçar uma criança de bater nela, se contar a alguém algo...

Permitir tratamento discriminatório entre meninas e meninas. Exemplos: meninas não podem jogar bola, brincar de carrinho, soltar pipa, meninos não podem chorar, brincar de casinha, usar rosa, ajudar nas tarefas domésticas.

Racismo Institucional. Exemplos: na biblioteca de uma escola não haver (ou haver pouco em relação ao todo) livros protagonizados por personagens negros ou negras, indígenas; ter representada na decoração só crianças de determinado grupo ou de forma melhor destacada que as demais, não implementação da lei 11.639 que tornou obrigatório o ensino de cultura e história afrobrasileira. Genocídio da juventude negra. Emissoras de tv que fomentam esteriótipos contra segmentos populacionais vulneráveis no sentido político, o programa Zorra Total é uma boa citação, uma vez que nele negros e negras são ridicularizados, bem como portadores de deficiência (não parecia ser este o caso de Janete?), mulheres... o que nos leva a citar a PIADA RACISTA.


Agora participem e dêem exemplos. Vamos falar, desabafar! Colocar a energia para girar a favor de uma transformação humana conscientizadora de nosso papel no mundo!