Força da Justiça

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terça-feira, 14 de julho de 2015

Mulheres e a luta por Justiça: Violência obstétrica

Mulheres e a luta por Justiça: Violência obstétrica

Violência obstétrica


Eu vi uma mulher preparando outra pessoa... o tempo parou pra eu olhar para aquela barriga... a vida é amiga da arte... É a arte que o Sol me ensinou...
...
E a coisa mais certas de todas as coisas não vale um caminho sob o Sol...


Na rotina das quintas-feiras e sextas dos últimos dois meses atravesso a cidade para chegar ao extremo leste, divisa com Guarulhos, para fazer formação com dois grupos de mulheres, de idades variadas, experiências que ora se aproximam ora mostram a riqueza da diversidade.
 
Um trabalho como este não tem como ser apresentado a não ser com o encontro de duas palavras> força e beleza, encanto-me ao ver nelas nossa face de mulher.
 
O último encontro me tocou profundamente e particularmente, a tal ponto que hoje estou aqui a escrever, depois de um longo tempo. Perdoem-me, mas a vida me chamou por outros caminhos e ficou difícil manter essa prosa com a frequência que gostaria... e essa mesma dona vida me deu mais experiências para compartilhar em textos por aqui.
 
Entro em sala com a parceira de trabalho e olho para aquelas mulheres. Respiro fundo e lá vamos nós falar sobre gestaçao, puerpério, aproveitando o gancho do ECA *Estatuto da Criança e do Adolescente* que reconheceu o período pós-parto como fase de especial importância para a mulher e para a criança, embora tenha por objetivo minorar ou evitar as consequências do puerpério. Cá entre nós, importantíssimo esse reconhecimento do ECA, mas puerpério tem que ser vivido com apoio verdadeiro e ciente do que está sendo construído nessa fase que é ao mesmo tempo de renascimento da mulher que cuida do recém-nascido, relação de profunda mudança para ela e para a criança que, por sua vez, deixa um corpo que não é seu, mas que precisa de um tempo para entender o que aconteceu e, mesmo ao perceber gradativamente, dá sinais sobre a vida da mãe, sinais do que está bem, do que não está, formando por vezes uma relação de espelho. Então fica quase que desnecessário dizer que esta mulher precisa estar amparada, acarinhada, segura para cuidar da criança e captar estes sinais, mas não é o que ocorre.
 
Joana, durante nosso encontro, afirmou que a sensação que teve após a filha nascer foi a de  não querer vê-la, pois ficou durante horas imobilizada, seu parto foi um pesadelo e ela se sentiu torturada.
 
Caielli recebeu ocitocina sintética para acelerar o parto, sentia dores horrendas, sozinha, não permitiram que outra pessoa a acompanhasse, a não ser o pai da criança, mas ele estava em outro Estado. A equipe médica conclui que ela deve ser submetida à cesárea porque o trabalho de parto estava lento, aplicaram-lhe anestesia que não surte efeito, dizem que não podem aplicar outra, pois o bebê entraria em risco de morte. Dizem que os dois podem morrer se o parto não fosse feito naquele momento. Ela pede que façam a cirurgia e que salvem sua filha, sente cada corte e costura e a avisam que deve orar, pois não dariam 24 horas de vida para a recém-nascida que hoje tem quase dois anos. O sentimento de desespero, solidão e angústia a acompanham até hoje.
 
Flor não conseguia falar, chorava de soluçar.
 
E os relatos de trauma, dor se seguiram. O que deveria ser um momento de celebrar a vida, tornou-se para essas mulheres tortura e elas são as únicas.  Segundo a OMS, Organização Mundial de Saúde, 1 em cada 4 mulheres foi violentada durante o trabalho de parto, o que se chama de violência obstétrica. Número que pode ser bem mais elevado, uma vez que a informação sobre o que é violência obstétrica não é ainda divulgada o suficiente para que as mulheres percebam se foram vítimas ou não, acreditando muitas vezes que foram submetidas a tratamentos necessários. São vários os exemplos do que configura o tratamento desumano à gestante como o  excessivo número de exame de toques, sem a apresentação dos profissionais e explicação sobre o procedimento e o objetivo, frases depreciativas como *na hora de fazer não gritou*, *tá gritando, mas aposto que no ano que vem estará aqui de novo*, impedimento de acompanhante por escolha da parturiente, impedimento da mãe ficar com a criança logo após o nascimento e dar de mamar, aplicação de ocitocina sintética para acelerar o parto, obrigar a parturiente a ficar em determinada posição, realizar episiotomia *corte entre o ânus e a vagina* sem consentimento e sem necessidade, empurrar a barriga da gestante para que o bebê nasça e assim vai.
 
É importante denunciar para evitar a continuidade dessa tragédia que afeta mulheres, ou seja, é violência de gênero, afeta crianças, afeta a vida. Denunciar à Secretaria de Mulheres através do disque 180, ao Ministério Público Federal, ao Judiciário como tentativa de obrigar que os agressores *equipe médica e hospital* indenizem as vítimas. Tanto as Defensorias Públicas como advogados podem ingressar com a ação de danos morais.
 
É importante desabafar, tirar de si a culpa do que ocorreu porque a pergunta e *se eu tivesse feito isso ou aquilo* fica martelando na cabeça de quem sofreu a violência, é importante procurar apoio. Cresce o número de estratégias para identificar, denunciar e impedir a violência obstétrica e mais... cresce o número de centros humanizados de parto e atendimento à gestante como a CASA DE PARTO ANGELA, na zona sul de São Paulo.
 
Apoie o parto humanizado. Parir com amor. Nascer com amor. Ampare uma gestação, uma gestante. Acredite no potencial da mulher em parir e conduzir a relação com a criança. Ajude para que ela tenha, sobretudo, amparo, amor e segurança. É possível.






 
 
Saiba mais sobre violência doméstica<


http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2014/03/12/mulheres-denunciam-violencia-obstetrica-saiba-se-voce-foi-vitima/

http://www.partodoprincipio.com.br/#!faq-violncia-obsttrica/c22qe

Sobre a CASA DE PARTO ANGELA<

http://www.casaangela.org.br/

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FILME O RENASCIMENTO DO PARTO